Um dos cartazes do evento |
O
Memória dos Paladares esteve presente no Encontro da Diversidade Cultural do
ABC, realizado no campus de São Bernardo. No dia 21 de novembro, acompanhamos
de perto o GT 2, que tinha como título “Salvaguarda do direito a memória e
identidade cultural”. Foram três
falas: do Pai Nelson, acerca do candomblé; da Professora Doutora Ana Maria
Dietrich, sobre o direito versus dever da memória; e do Leandro Valquer, que
relatou sua experiência no grupo de jongo Preta Bandeira. A mediadora do GT era
a própria Ana Maria Dietrich.
Participantes do GT e ouvintes |
O relato do Pai Nelson foi marcado por uma frase
em particular: “Candomblé é uma religião de paz”. Iniciou sua vida espiritual ligado à Umbanda,
e pode contar sobre a casa espiritual que antes era de responsabilidade de sua
mãe. Aos 8 anos, incorporou um índio, Caboclo Peri, e desde então foi guiado
nas suas tarefas espirituais. Em 74, se iniciou no Candomblé e hoje cultua,
principalmente, o orixá Iemanjá (rainha do mar). Pai Nelson critica a falta de respeito
e tolerância dos brasileiros à sua religião, e diz que “falta de religião é
menos complicada que falta de respeito entre religiões”, e que “sonha com um
futuro onde todas as religiões sentem juntas e troquem informações e
experiências”. Sua luta constante não é pedir tolerância, mas sim respeito.
Pai Nelson |
A professora doutora Ana
Maria Dietrich apresentou sua fala com o título “Direito à Memória x Dever da
Memória”, e analisou as batalhas da memória e toda a dificuldade em estabelecer
o que é patrimônio e o que não é. Até que ponto a negação à memória faz mal à
História e sua compreensão? Com o exemplo do holocausto, questiona se esse
“passar da borracha no passado” não prejudica o entendimento e até a prevenção
de que uma situação semelhante não aconteça novamente. Para entender o que deve
ser guardado e o que pode ser, de fato, apagado da memória é essencial entender
o conceito de patrimônio. O patrimônio está ligado ao conjunto de práticas,
valores, sensações do indivíduo, assim como o sentimento de “pertencimento” e o
produto da trajetória humana. Nem tudo o que é belo é patrimônio, da mesma
forma que nem todo patrimônio é belo, como por exemplo o Grande ABC como
patrimônio industrial. Da mesma forma, patrimônio não é “o que sobrou da história”,
como a própria Ana Dietrich diz.
Ana Maria Dietrich |
Leandro Valquer,
representante do Grupo Preta Bandeira de Santo André, focou sua exposição de
fatos na experiência do jongo. O Jongo é uma manifestação cultural que surgiu
com os escravos, e servia para reivindicação, para organizações políticas, e
também lazer. Em uma roda, os participantes começam a cantar e dançar, num
formato pergunta-resposta, realizam brincadeiras entre eles, contam histórias e
chamam outros a participarem também. Não existe separação entre público e
artistas. Atualmente, o grupo tem ido difundir suas experiências e história nas
escolas que os convidam, incentivando a criação de grêmios estudantis ou
movimentos de conotação política. Também participam de trabalhos sociais e
visitam coletivos, como a Casa da Lagartixa Preta em Santo André e outros espaços
de formação de poder popular e descartam a hipótese de intervenção elitista.
Da esquerda para direita: Pai Nelson, Ana Maria Dietrich e Leandro Valquer. |
O Encontro foi muito interessante, produtivo e os
ouvintes participaram com observações construtivas, levando problemáticas e
questões importantes. Como o nome do próprio GT já dizia “Salvaguarda do
direito a memória e identidade cultural”, as falas apresentadas representavam
minorias culturais e religiosas que, apesar de suas dificuldades, também tem
direito à memória e identidade. Foi importante a exposição tanto teórica como prática. Para encerrar, Ana Dietrich diz: “Você deve
visitar museus (ou ambientes como esse evento) quando, na verdade, a memória
deveria estar dentro de você”.
Ana Lee é estudante do Bacharelado em Ciência & Tecnologia
da Universidade Federal do ABC
e bolsista do Projeto de Extensão Memória dos Paladares.
Nenhum comentário:
Postar um comentário